Nos últimos dias, tem-se discutido intensamente sobre a maneira como algumas pessoas estão tratando os bebês reborn como se fossem crianças de verdade, reivindicando para eles direitos de saúde, educação e outros que são exclusivamente destinados a seres humanos. Essa situação tem gerado perplexidade, já que, em essência, os bebês reborn são bonecas, não crianças reais. 

Apesar dessa polêmica, os bebês reborns têm um papel importante para públicos muito bem definidos, como crianças, que aprendem sobre cuidado e empatia, e idosos com Alzheimer, para quem essas bonecas representam uma fonte de conforto e conexão emocional.

Hoje, nosso foco é a conexão entre o bebê reborn e o Alzheimer.

A Doença de Alzheimer é uma triste realidade que afeta muitas pessoas ao redor do mundo. Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que mais de 48 milhões de indivíduos vivem com algum tipo de demência, sendo o Alzheimer o mais comum. Com o avanço da doença, é natural que os idosos enfrentem solidão, a dor pela perda de entes queridos e uma sensação de falta de propósito. O contato humano e a expressão de afeto tornam-se fundamentais nessa fase.

Além de tratamentos medicamentosos destinados a retardar a progressão da doença, a ciência tem explorado terapias não farmacológicas. Nesse contexto, a terapia com bonecas, especialmente as "Baby Reborn", tem se destacado. Criadas para serem extremamente realistas, essas bonecas despertam emoções e o instinto de cuidado.

A simplicidade poderosa dessa iniciativa reside em oferecer um "bebê" para os idosos cuidarem, abraçarem e interagirem. Esse envolvimento pode reacender sentimentos de utilidade, afeição e ajudar a resgatar memórias de maternidade ou paternidade. É como se, através do abraço de uma boneca, parte da alegria e propósito obscurecidos pela doença fossem recuperados.


Mas como pode uma boneca realista ter um impacto tão significativo? A resposta encontra-se em teorias psicológicas importantes:

Teoria do Apego (John Bowlby): esta teoria destaca a necessidade humana de estabelecer vínculos emocionais profundos. Para aqueles com demência, que frequentemente anseiam por entes queridos, a boneca supre essa necessidade de afeição, proporcionando conforto e reduzindo agitação.

Teoria do Objeto Transicional (Donald Winnicott): assim como crianças utilizam objetos para sentir segurança, os idosos com demência encontram na boneca um objeto físico que traz calma e ajuda a lidar com sentimentos difíceis.

Teoria Centrada na Pessoa (Carl Rogers): ao valorizar o indivíduo, esta abordagem promove um senso de compreensão e importância. A interação com a boneca oferece ao idoso a chance de se sentir útil, melhorando seu bem-estar e satisfação pessoal.

 

Benefícios no tratamento 

No estudo "O Impacto da Terapia 'Baby Reborn' no Resgate de Memórias de Idosos com Alzheimer", diversas pesquisas foram analisadas revelando que a terapia com bonecas é uma ferramenta valiosa. Os resultados mostram uma eficácia na redução de comportamentos de agitação e na promoção de humor positivo e interações sociais.

Observou-se que os idosos acolhiam as bonecas com carinho, transformando comportamentos agressivos em atitudes mais sociáveis. Eles cuidavam das bonecas com dedicação, demonstrando essa afeição de maneira tocante. A boneca tornava-se um ponto de conexão, estimulando comunicação e interação.

Os artigos revisados destacam benefícios terapêuticos significativos, como maior socialização e melhora nas memórias afetivas, favorecendo a interação entre pacientes, terapeutas e cuidadores.

É fundamental que se valorize o potencial terapêutico dos bebês reborn, especialmente no cuidado com pacientes com Alzheimer, em vez de vê-los apenas como um acessório da vida moderna para brincar de boneca. Essas bonecas oferecem mais que diversão; elas representam uma ferramenta significativa de apoio emocional e social para aqueles que enfrentam os desafios da doença, revelando a profundidade do seu valor em contextos de cuidado e afeto.